Soberano Grande Comendador
Mário Bhering
Exerceu a interinidade do Grão-Mestrado de 10 de agosto de 1920 até 19 de novembro do mesmo ano e de 25 de dezembro até abril de 1921.
Em 1924, assumiu a direção da Biblioteca Nacional, nomeado pelo Presidente Artur Bernardes, cargo em que se manteve até 1932.
Durante as interinidades no Grão-Mestrado, Mário Behring participou de congressos internacionais e seguindo a orientação dos outros Supremos Conselhos do mundo, trouxe para o Brasil a tese do regime de separação entre as administrações dos Graus Simbólicos e a dos Altos Graus. Isso implicava numa divisão do poder na Maçonaria brasileira, causa principal do que aconteceu em seguida.
Um tratado que confederava o Supremo Conselho ao Grande Oriente do Brasil ficou ameaçado de ser desfeito; uma crise que se avolumava desde 1921 (com a extinção de acordos com o Rio Grande do Sul e São Paulo, desacordos sobre eleições etc.) culminou na cisão de 1927. Mário Behring retirou-se do Grande Oriente e empenhou-se na fundação das Grandes Lojas. ( Entenda-se, portanto, que a Grande Loja Maçônica de Minas Gerais resultou de uma cisão na Potência central Grande Oriente do Brasil e não especificamente no Grande Oriente do Brasil-Minas Gerais, Obediência filiada ao primeiro e que teve sua fundação dezessete anos depois, em 12 de dezembro de 1944.)
Mário Marinho de Carvalho Behring faleceu no exercício do cargo de Soberano Grande Comendador em 14 de junho de 1933, no Rio de Janeiro, sendo substituído por Joaquim Moreira Sampaio.
1927 e a década “que não vai acabar”
A expressão "1927 não vai acabar" é de José Castellani (1937 — 2004), médico oftalmologista, escritor, jornalista e historiador maçônico brasileiro pertencente aos quadros do GOB.
O movimento de 1927 não foi um fenômeno isolado do contexto que vinha se desenvolvendo na Maçonaria brasileira desde os conflitos entre as alas de José Bonifácio e Gonçalves Ledo.
De 1864 até 1926 o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito funcionou confederado ao Grande Oriente do Brasil. Pelas normas deste, a suprema autoridade da Maçonaria no Brasil estava numa só pessoa, ou seja, o maçom eleito Grão-Mestre do Simbolismo era, ispo facto, investido no cargo de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho. Nesse sistema, quase todas as lojas do Grande Oriente do Brasil eram Lojas Capitulares trabalhando, além dos rituais dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, nos Graus 15 ao 18.
As divisões que vinham enfraquecendo a Maçonaria desde o Império agravaram-se quando o papa Pio IX editou a encíclica ?Quanta Cura?, acompanhada do famoso ?Syllabus Errorum? (8 de dezembro de 1864), condenando o naturalismo, racionalismo, socialismo, comunismo, a maçonaria, o judaísmo e mesmo as igrejas ?tidas como cristãs? que tentassem explicar a Bíblia.
Passados os pontificados de Leão XIII e Pio X, Bento XV promulgou o Código do Direito Canônico (1917). Esse Código incluiu novas restrições à Maçonaria sob a alegação geral de as Ordens iniciáticas terem como fundamento o ?culto do homem? e uma visão antropocêntrica do Universo. Grande parte dos padres, principalmente nas cidades do interior, se recusava a discutir o assunto dificultando a participação dos maçons nos sacramentos religiosos e na vida social. Os acirrados inimigos da Maçonaria aproveitaram a ocasião para fazerem declarações infundadas contra os maçons, apontando a boa vontade destes como uma miscelânea disfarçada com o objetivo de estabelecerem uma nova ordem mundial e ecumênica. (As reais intenções da Maçonaria e mesmo o ecumenismo incorporado a partir de 1960, quando o papa João XXIII criou o Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos, passaram a ser parcialmente compreendidos e o nome da Maçonaria – devido a um critério redacional – não foi expressamente mencionado no Código do Direito Canônico de 1983. A Maçonaria passou a ser subentendida no âmbito de categorias mais amplas (ver Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre a Maçonaria, Roma, 26 de novembro de 1983). Disponível em: . Acesso em: julho de 2013. 5 Artur da Silva Bernardes era mineiro de Viçosa (1875-1955), advogado e Presidente do Estado de Minas Gerais de 1918 a 1922. Foi Presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926.)
Com a liberdade de culto, fruto dos ideais republicanos, a Igreja ressentiu-se de estar esquecida pelos políticos quando o Positivismo passou a dominar as discussões políticas, principalmente entre os militares. Fatos análogos aconteciam pelo mundo e Pio XI reagiu instituindo a Ação Católica que, no Brasil, foi apoiada por grupos laicos nas décadas de 1920 e 30 para recristianizar a sociedade. Foi criada uma direção central para a Ação Católica, mais tarde controlada no Brasil pelo cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra e dirigida por Alceu Amoroso Lima, com a participação de outros intelectuais católicos, muitos dos quais filiados à Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado.
Nas eleições de março de 1922, Nilo Peçanha, candidato à presidência da República, era também candidato a Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Embora apoiado pelos políticos situacionistas de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e grande parte dos militares, foi derrotado por Artur Bernardes5 e mandado para a prisão. O Brasil passou a ser governado em constante estado de sítio e intervenções nos Estados. Em setembro de 1926 foi promovida a única reforma da Constituição de 1891 que alterou as condições para se estabelecer o estado de sítio. O movimento tenentista, chamado ?revolta dos 18 do Forte de Copacabana?, a fundação do Partido Comunista Brasileiro e a coluna Prestes, que percorreu o país pregando mudanças políticas, foram os maiores desafios de Artur Bernardes.
Nesse mesmo ano, o Supremo Conselho do Brasil compareceu em Lausanne, Suíça, na III Conferência Internacional dos Supremos Conselhos (29 de junho de 1922), estando Mário Behring convicto de suas posições e do que deveria ser feito. Fortalecido pelas decisões traçadas para que todos os Corpos Diretores do Rito fossem regularizados, conclamou o Grande Oriente do Brasil a modificar suas leis referentes ao funcionamento confederado dos dois Corpos. A resolução dessa Conferência dizia o seguinte:
Cada Supremo Conselho deve ser soberano e livre de qualquer direção por parte de qualquer Corpo ou organização maçônica, no processo de escolha dos seus membros, na eleição de seus oficiais, no tempo de exercício das respectivas funções, na adoção dos estatutos, na relação que mantém com os diversos Corpos que lhe são subordinados em sua jurisdição, respeitados os direitos das Grandes Lojas (Grandes Lojas, no texto – referência às demais existentes no mundo –, pois as do Brasil ainda estavam por serem fundadas.) regulares, que dirigem os três primeiros graus da Antiga Maçonaria. Conforme as Grandes Constituições Escocesas e a Resolução acima, os membros do Supremo Conselho devem ser escolhidos, exclusivamente, pelo processo de seleção, não se admitindo que as Grandes Lojas ou outras quaisquer corporações maçônicas intervenham direta ou indiretamente, seja na eleição dos oficiais ou mesmo na de Grande Comendador.
Em 1925 Mário Behring – Grão-Mestre e, portanto, pelas leis do Grande Oriente do Brasil, Soberano Grande Comendador – apontou a irregularidade dessa acumulação de cargos propondo a separação das duas jurisdições. Behring não se candidatou mais ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente. Passou para Vicente Saraiva de Carvalho Neiva o exercício do cargo de Grão-Mestre, optando por conservar o de Grande Comendador. Essa escolha de Behring foi mais do que um desapego ou firme decisão de não se envolver em querelas sobre eleições e supostas fraudes. Seu afastamento seria inconstitucional se analisado pelas normas do Grande Oriente, mas foi coerente com as leis que regem o Rito Escocês nos demais países
[…] que obrigam ao Supremo Conselho do Brasil, porque nelas se baseia a sua regularidade, a sua existência, o seu reconhecimento como parte da Federação Maçônica Internacional, têm de ser separadas as administrações dos dois corpos – Grande Oriente, que ficará adstrito exclusivamente ao Simbolismo e Supremo Conselho com soberana administração de todos os Graus acima de Mestre e Oficinas que os praticam: Lojas de Perfeição, Areópagos e Consistórios. (Oficina é o mesmo que Loja, uma alusão aos canteiros de obra da antiga Maçonaria operativa (profissão de pedreiro) e das Guildas da Idade Média. O "canteiro de obra" tinha o nome de ?lodge?, local onde se desenvolve um ofício. Areópago vem do conceito da antiga Atenas: o conselho de membros da aristocracia ateniense (em Maçonaria é o Conselho Kadosh que abriga os Graus 19 a 30). Consistório é o lugar da assembleia onde são tratados os assuntos mais relevantes de uma religião (em Maçonaria é o Corpo que abriga os Graus 31 e 32). (Manifesto de Mário Behring, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1927.)
Em nova eleição, Vicente Saraiva de Carvalho Neiva foi escolhido como Grão-Mestre. Empossado no dia 21 de dezembro de 1925, faleceu dois meses depois. João Severiano de Fonseca Hermes, ao assumir o Grão-Mestrado, assinou um tratado pelo qual os Graus Simbólicos permaneceriam com o Grande Oriente e os Altos Graus com o Supremo Conselho. Esse tratado foi aprovado na Sessão da Assembleia Geral de 7 de outubro de 1926 e homologado em 27 de outubro pelo Grão-Mestre.
Tudo parecia resolvido de uma vez por todas. Mas em novembro do mesmo ano, com a licença pedida por Fonseca Hermes, assumiu interinamente o Grão-Mestrado o Adjunto, Octavio Kelly. Thomaz Cavalcanti, ex-Grão-Mestre, vinha alegando que Fonseca Hermes fora longe demais nos termos do tratado com Behring e pediu a anulação dos poderes conferidos ao também Grão-Mestre já falecido, Vicente Saraiva. Essa proposta, apesar de não ter sido aprovada, abalou os alicerces da regularidade proposta por Behring. As discussões sobre a adoção ou não da divisão de poderes se reacenderam, agora eivadas de pertinazes teimosias.
Mário Behring já previa essa reviravolta, sabendo que Octávio Kelly não dividiria com ele o poder das duas Potências. Começou então a promover reuniões e debates com os membros do Supremo Conselho. As decisões de Fonseca Hermes foram colocadas em questão. O tratado foi revogado ao mesmo tempo que se reconstruiu a Oficina Chefe do Rito num Supremo Conselho unido ao Grande Oriente do Brasil, denominado Supremo Conselho Reconstituído, revalidando o duplo mandato de Grão-Mestre e Soberano Grande Comendador. Como narrou o Irmão Joaquim da Silva Pires, citado por João Guilherme Ribeiro:
Durante histórica sessão, que se realizou em 17 de junho de 1927, em um salão profano (Centro Galego), situado na Rua da Quitanda nº 32, o Irmão Mário Behring (no cargo de Soberano Grande Comendador) desvinculou, do Grande Oriente, o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito, asseverando que só o referido Supremo Conselho possuía o direito de escolher sua própria administração. (RIBEIRO. Os fios da meada.)
Exerceu a interinidade do Grão-Mestrado de 10 de agosto de 1920 até 19 de novembro do mesmo ano e de 25 de dezembro até abril de 1921.
Em 1924, assumiu a direção da Biblioteca Nacional, nomeado pelo Presidente Artur Bernardes, cargo em que se manteve até 1932.
Durante as interinidades no Grão-Mestrado, Mário Behring participou de congressos internacionais e seguindo a orientação dos outros Supremos Conselhos do mundo, trouxe para o Brasil a tese do regime de separação entre as administrações dos Graus Simbólicos e a dos Altos Graus. Isso implicava numa divisão do poder na Maçonaria brasileira, causa principal do que aconteceu em seguida.
Um tratado que confederava o Supremo Conselho ao Grande Oriente do Brasil ficou ameaçado de ser desfeito; uma crise que se avolumava desde 1921 (com a extinção de acordos com o Rio Grande do Sul e São Paulo, desacordos sobre eleições etc.) culminou na cisão de 1927. Mário Behring retirou-se do Grande Oriente e empenhou-se na fundação das Grandes Lojas. ( Entenda-se, portanto, que a Grande Loja Maçônica de Minas Gerais resultou de uma cisão na Potência central Grande Oriente do Brasil e não especificamente no Grande Oriente do Brasil-Minas Gerais, Obediência filiada ao primeiro e que teve sua fundação dezessete anos depois, em 12 de dezembro de 1944.)
Mário Marinho de Carvalho Behring faleceu no exercício do cargo de Soberano Grande Comendador em 14 de junho de 1933, no Rio de Janeiro, sendo substituído por Joaquim Moreira Sampaio.
1927 e a década “que não vai acabar”
A expressão "1927 não vai acabar" é de José Castellani (1937 — 2004), médico oftalmologista, escritor, jornalista e historiador maçônico brasileiro pertencente aos quadros do GOB.
O movimento de 1927 não foi um fenômeno isolado do contexto que vinha se desenvolvendo na Maçonaria brasileira desde os conflitos entre as alas de José Bonifácio e Gonçalves Ledo.
De 1864 até 1926 o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito funcionou confederado ao Grande Oriente do Brasil. Pelas normas deste, a suprema autoridade da Maçonaria no Brasil estava numa só pessoa, ou seja, o maçom eleito Grão-Mestre do Simbolismo era, ispo facto, investido no cargo de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho. Nesse sistema, quase todas as lojas do Grande Oriente do Brasil eram Lojas Capitulares trabalhando, além dos rituais dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, nos Graus 15 ao 18.
As divisões que vinham enfraquecendo a Maçonaria desde o Império agravaram-se quando o papa Pio IX editou a encíclica ?Quanta Cura?, acompanhada do famoso ?Syllabus Errorum? (8 de dezembro de 1864), condenando o naturalismo, racionalismo, socialismo, comunismo, a maçonaria, o judaísmo e mesmo as igrejas ?tidas como cristãs? que tentassem explicar a Bíblia.
Passados os pontificados de Leão XIII e Pio X, Bento XV promulgou o Código do Direito Canônico (1917). Esse Código incluiu novas restrições à Maçonaria sob a alegação geral de as Ordens iniciáticas terem como fundamento o ?culto do homem? e uma visão antropocêntrica do Universo. Grande parte dos padres, principalmente nas cidades do interior, se recusava a discutir o assunto dificultando a participação dos maçons nos sacramentos religiosos e na vida social. Os acirrados inimigos da Maçonaria aproveitaram a ocasião para fazerem declarações infundadas contra os maçons, apontando a boa vontade destes como uma miscelânea disfarçada com o objetivo de estabelecerem uma nova ordem mundial e ecumênica. (As reais intenções da Maçonaria e mesmo o ecumenismo incorporado a partir de 1960, quando o papa João XXIII criou o Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos, passaram a ser parcialmente compreendidos e o nome da Maçonaria – devido a um critério redacional – não foi expressamente mencionado no Código do Direito Canônico de 1983. A Maçonaria passou a ser subentendida no âmbito de categorias mais amplas (ver Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre a Maçonaria, Roma, 26 de novembro de 1983). Disponível em: . Acesso em: julho de 2013. 5 Artur da Silva Bernardes era mineiro de Viçosa (1875-1955), advogado e Presidente do Estado de Minas Gerais de 1918 a 1922. Foi Presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926.)
Com a liberdade de culto, fruto dos ideais republicanos, a Igreja ressentiu-se de estar esquecida pelos políticos quando o Positivismo passou a dominar as discussões políticas, principalmente entre os militares. Fatos análogos aconteciam pelo mundo e Pio XI reagiu instituindo a Ação Católica que, no Brasil, foi apoiada por grupos laicos nas décadas de 1920 e 30 para recristianizar a sociedade. Foi criada uma direção central para a Ação Católica, mais tarde controlada no Brasil pelo cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra e dirigida por Alceu Amoroso Lima, com a participação de outros intelectuais católicos, muitos dos quais filiados à Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado.
Nas eleições de março de 1922, Nilo Peçanha, candidato à presidência da República, era também candidato a Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Embora apoiado pelos políticos situacionistas de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e grande parte dos militares, foi derrotado por Artur Bernardes5 e mandado para a prisão. O Brasil passou a ser governado em constante estado de sítio e intervenções nos Estados. Em setembro de 1926 foi promovida a única reforma da Constituição de 1891 que alterou as condições para se estabelecer o estado de sítio. O movimento tenentista, chamado ?revolta dos 18 do Forte de Copacabana?, a fundação do Partido Comunista Brasileiro e a coluna Prestes, que percorreu o país pregando mudanças políticas, foram os maiores desafios de Artur Bernardes.
Nesse mesmo ano, o Supremo Conselho do Brasil compareceu em Lausanne, Suíça, na III Conferência Internacional dos Supremos Conselhos (29 de junho de 1922), estando Mário Behring convicto de suas posições e do que deveria ser feito. Fortalecido pelas decisões traçadas para que todos os Corpos Diretores do Rito fossem regularizados, conclamou o Grande Oriente do Brasil a modificar suas leis referentes ao funcionamento confederado dos dois Corpos. A resolução dessa Conferência dizia o seguinte:
Cada Supremo Conselho deve ser soberano e livre de qualquer direção por parte de qualquer Corpo ou organização maçônica, no processo de escolha dos seus membros, na eleição de seus oficiais, no tempo de exercício das respectivas funções, na adoção dos estatutos, na relação que mantém com os diversos Corpos que lhe são subordinados em sua jurisdição, respeitados os direitos das Grandes Lojas (Grandes Lojas, no texto – referência às demais existentes no mundo –, pois as do Brasil ainda estavam por serem fundadas.) regulares, que dirigem os três primeiros graus da Antiga Maçonaria. Conforme as Grandes Constituições Escocesas e a Resolução acima, os membros do Supremo Conselho devem ser escolhidos, exclusivamente, pelo processo de seleção, não se admitindo que as Grandes Lojas ou outras quaisquer corporações maçônicas intervenham direta ou indiretamente, seja na eleição dos oficiais ou mesmo na de Grande Comendador.
Em 1925 Mário Behring – Grão-Mestre e, portanto, pelas leis do Grande Oriente do Brasil, Soberano Grande Comendador – apontou a irregularidade dessa acumulação de cargos propondo a separação das duas jurisdições. Behring não se candidatou mais ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente. Passou para Vicente Saraiva de Carvalho Neiva o exercício do cargo de Grão-Mestre, optando por conservar o de Grande Comendador. Essa escolha de Behring foi mais do que um desapego ou firme decisão de não se envolver em querelas sobre eleições e supostas fraudes. Seu afastamento seria inconstitucional se analisado pelas normas do Grande Oriente, mas foi coerente com as leis que regem o Rito Escocês nos demais países
[…] que obrigam ao Supremo Conselho do Brasil, porque nelas se baseia a sua regularidade, a sua existência, o seu reconhecimento como parte da Federação Maçônica Internacional, têm de ser separadas as administrações dos dois corpos – Grande Oriente, que ficará adstrito exclusivamente ao Simbolismo e Supremo Conselho com soberana administração de todos os Graus acima de Mestre e Oficinas que os praticam: Lojas de Perfeição, Areópagos e Consistórios. (Oficina é o mesmo que Loja, uma alusão aos canteiros de obra da antiga Maçonaria operativa (profissão de pedreiro) e das Guildas da Idade Média. O "canteiro de obra" tinha o nome de ?lodge?, local onde se desenvolve um ofício. Areópago vem do conceito da antiga Atenas: o conselho de membros da aristocracia ateniense (em Maçonaria é o Conselho Kadosh que abriga os Graus 19 a 30). Consistório é o lugar da assembleia onde são tratados os assuntos mais relevantes de uma religião (em Maçonaria é o Corpo que abriga os Graus 31 e 32). (Manifesto de Mário Behring, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1927.)
Em nova eleição, Vicente Saraiva de Carvalho Neiva foi escolhido como Grão-Mestre. Empossado no dia 21 de dezembro de 1925, faleceu dois meses depois. João Severiano de Fonseca Hermes, ao assumir o Grão-Mestrado, assinou um tratado pelo qual os Graus Simbólicos permaneceriam com o Grande Oriente e os Altos Graus com o Supremo Conselho. Esse tratado foi aprovado na Sessão da Assembleia Geral de 7 de outubro de 1926 e homologado em 27 de outubro pelo Grão-Mestre.
Tudo parecia resolvido de uma vez por todas. Mas em novembro do mesmo ano, com a licença pedida por Fonseca Hermes, assumiu interinamente o Grão-Mestrado o Adjunto, Octavio Kelly. Thomaz Cavalcanti, ex-Grão-Mestre, vinha alegando que Fonseca Hermes fora longe demais nos termos do tratado com Behring e pediu a anulação dos poderes conferidos ao também Grão-Mestre já falecido, Vicente Saraiva. Essa proposta, apesar de não ter sido aprovada, abalou os alicerces da regularidade proposta por Behring. As discussões sobre a adoção ou não da divisão de poderes se reacenderam, agora eivadas de pertinazes teimosias.
Mário Behring já previa essa reviravolta, sabendo que Octávio Kelly não dividiria com ele o poder das duas Potências. Começou então a promover reuniões e debates com os membros do Supremo Conselho. As decisões de Fonseca Hermes foram colocadas em questão. O tratado foi revogado ao mesmo tempo que se reconstruiu a Oficina Chefe do Rito num Supremo Conselho unido ao Grande Oriente do Brasil, denominado Supremo Conselho Reconstituído, revalidando o duplo mandato de Grão-Mestre e Soberano Grande Comendador. Como narrou o Irmão Joaquim da Silva Pires, citado por João Guilherme Ribeiro:
Durante histórica sessão, que se realizou em 17 de junho de 1927, em um salão profano (Centro Galego), situado na Rua da Quitanda nº 32, o Irmão Mário Behring (no cargo de Soberano Grande Comendador) desvinculou, do Grande Oriente, o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito, asseverando que só o referido Supremo Conselho possuía o direito de escolher sua própria administração. (RIBEIRO. Os fios da meada.)
Em 20 de junho de 1927, durante Sessão do Conselho Geral, Mário Behring não se pronunciou sobre as eleições para Grão-Mestre do Grande Oriente e sim às eleições no Supremo Conselho. Nessa ocasião, ponderaram com prudência os Irmãos Senna Campos e Mattoso Maia e as deliberações foram adiadas para a sessão seguinte. (Na Espanha e no Uruguai, por exemplo, essa observância de separação entre a administração dos Graus Simbólicos e os Graus Superiores do Rito Escocês já estava de acordo com as resoluções da Conferência de Lausanne de 1922. Só o Brasil protelava essa conformação.)
Mas Octávio Kelly não esperou essa outra sessão e no dia seguinte – 21 de junho de 1927 – declarou nulo, pelos Decretos nº 859, o Tratado e todos os atos dos seus antecessores, publicando, seguidamente, os Decretos nºs 860 e 861 de julho de 1927 (Fonte desses Decretos, obra citada de Castellani, O Supremo Conselho no Brasil.):
"DECRETO nº 859: Octavio Kelly, 33: Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do Brasil, no exercício do Grão-Mestrado; Considerando a necessidade de se reformar a Constituição atual do Grande Oriente do Brasil, demonstrada desde 1921 e que apesar dos trabalhos das Constituintes, iniciados para esse fim, nunca puderam chegar a uma conclusão; Considerando que a deliberação tomada pelo Ilustre Conselho Geral da Ordem em sessão de 7 de fevereiro do corrente ano, para que fosse feita a convocação da Assembleia Geral, para, em 24 de junho corrente, reunir-se em caráter constituinte, colide com a observância da 2ª parte do art. 75 da Constituição; Considerando que, assim, a convocação feita pelo Decreto nº 858, de 23 de fevereiro do corrente ano, incide no vício primário de admitir como base para a discussão um projeto sobre cuja existência e colaboração deixaram de se pronunciar as Lojas filiadas ao Grande Oriente do Brasil; Considerando, finalmente, que, diante da impossibilidade material de tempo para que sejam cumpridas todas as disposições que regulam tão magno assunto, deve ser levado em consideração o maior respeito às disposições do art. 75 da Constituição adotada pelo Decreto nº 353, de 24 de fevereiro de 1907, Era Vulgar, de que não sejam afetados de vício de origem e, consequentemente, se tornem profícuos os trabalhos realizados;
DECRETA: Art. Único. Fica revogado, para todos os efeitos, o Decreto nº 858, de 23 de fevereiro de 1927, Era Vulgar, publicado à pagina 107 do "Boletim" do Grande Oriente do Brasil, nº 2, do mesmo mês. O Poderoso Irmão Grande Secretário-Geral do Grande Oriente do Brasil fica incumbido da publicação e notificação do presente Decreto. Dado e traçado no Gabinete do Grão-Mestrado do Grande Oriente do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, aos 21 dias do 4º mês do ano de 5927, Verdadeira Luz – 21 de junho de 1927, Era Vulgar. (ass.) Octavio Kelly, 33 Grão-Mestre em exercício, Francisco Prado, 18º Grande Secretário Interno do GOB, Virgílio Antonino de Carvalho, Grande Chanceler."
"DECRETO nº 860: "Octavio Kelly, 33: Grão-Mestre Adjunto […] DECRETA: Art. Único - Ficam revogados os poderes contidos na letra d) da resolução aprovada na sessão de 22 de dezembro de 1925, e, em consequência, nulos e de nenhum efeito todos os atos da aludida autorização […] 2 de julho de 1927.
"DECRETO nº 861: "Octavio Kelly, 33: Grão-Mestre Adjunto […] DECRETA: Art. Único - Ficam revogados o Decreto nº 850, de 27 de outubro de 1926, Era Vulgar, e, em consequência, anulado o Tratado assinado entre o Grande Oriente do Brasil e o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito para os Estados Unidos do Brasil […] 2 de julho de 1927".
Todos esses Decretos, assinou-os Octavio Kelly na qualidade de Grão-Mestre Adjunto no exercício do Grão-Mestrado, pois sua eleição para Grão-Mestre aconteceu mais tarde, em 26 de junho de 1928.
Cumpre ressaltar que em 1927 Mário Behring não estava envolvido em qualquer disputa eleitoral, seja na Maçonaria ou fora dela. Durante a cisão de 1927 – "o ano que ainda não acabou" (palavras do Irmão José Castellani) – (Passados quase quinze anos dessa expressão inteligentemente elaborada por Castellani (O Supremo Conselho no Brasil, p. 179), vemos que o ano de 1927 não está concluído, posto que o movimento de Mário Behring não tem limites no tempo. Hoje somos 27 Grandes Lojas em todo o Brasil (Potências independentes) com mais de 2.700 Lojas em todo o país e mais de 120 mil maçons ativos. Só a Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, treze anos após o vaticínio de Castellani, cresceu numa média de seis novas Lojas por ano. Realmente o ano de 1927 ainda não acabou (*JMG) - governaram o Grande Oriente do Brasil os Grão-Mestres João Severiano da Fonseca Hermes (1926-1927) e Octávio Kelly (1927-1933).
Diante do acontecido, Mário Behring assumiu o término da confederação havida desde 1864, prevendo também os rumos da República muito antes do advento do modelo instaurado por Getúlio Vargas. Enquanto outros líderes da Maçonaria brasileira se batiam para manter os privilégios que aos poucos lhes escapavam das mãos, Behring foi perspicaz o bastante para antever o brusco retraimento que se avizinhava da Maçonaria brasileira.
Revogado o Decreto de 23 de fevereiro de 1927, anulados os atos dele decorrentes das autorizações decorrentes e o Tratado entre o Grande Oriente do Brasil e o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito para os Estados Unidos do Brasil, a cisão estava consumada.
Mário Behring contra-atacou com seu famoso ?Manifesto?, declarando a ruptura total com o Grande Oriente do Brasil e retirou-se daquela Potência em companhia de duzentas Lojas Simbólicas, sendo 108 do Rito Escocês. Behring não agiu às escuras: dirigiu uma circular às Lojas Escocesas, concedendo-lhes plena liberdade para permanecerem jurisdicionadas ao Grande Oriente, sob a condição única de adotarem outro Simbolismo de Rito existente no Grande Oriente. Mesmo antes da ruptura, um grupo de maçons trabalhava em vários Estados brasileiros, especialmente na Bahia, onde já estava pronto o projeto para a Grande Loja Symbolica do Estado da Bahia, fundada em 22 de maio de 1927 sob a coordenação de Octaviano de Menezes Bastos (Grau 33 e autor da ?Pequena Enciclopédia Maçônica?).
O sistema de Grandes Lojas introduziu no Brasil o modelo norte-americano: uma Grande Loja para cada Estado da Federação. Desde os primeiros anos de sua fundação, nosso sistema receberia o apoio das Grandes Lojas das Américas inglesa e latina.
Mais práticos, sem ranços políticos, os americanos são mais objetivos. [diz João Guilherme Ribeiro] (RIBEIRO. Os fios da meada.) Excelentes relações são a norma entre os Altos Graus, tanto os Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito (Jurisdições Sul e Norte) como do Rito de York (Capítulos do Real Arco, Conselhos Crípticos e Comendas de Cavalaria). Sua fórmula, adotada desde os anos 50, requer, quanto à soberania territorial, que a Grande Loja seja ?uma organização independente e autogovernada, com autoridade maçônica dentro do território de sua jurisdição, seja país, província, Estado ou outra subdivisão política; ou então que divida tal jurisdição territorial exclusiva com outra Grande Loja por consentimento mútuo e/ou tratado".
Além da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, as outras seis primeiras Grandes Lojas foram fundadas no mesmo ano de 1927: Grande Loja do Rio de Janeiro (22 de junho), Grande Loja do Amazonas (24 de junho), Grande Loja do Pará (28 de julho), Grande Loja de São Paulo (29 de julho), Grande Loja da Paraíba (24 de agosto).
A Grande Loja de Minas Gerais foi fundada em 25 de setembro e instalada no dia seguinte, sob o título de ?Grande Loja Symbolica de Minas Gerais?.
No ano seguinte, foram criadas a Grande Loja do Rio Grande do Sul e a Grande Loja do Ceará. Todas receberam do Supremo Conselho suas Cartas Constitutivas. Cada Grande Loja tem sua respectiva Constituição, sendo governadas por seus Grão-Mestres como Potências estaduais independentes umas das outras, sem nenhuma ligação de dependência com o Supremo Conselho, mantendo as leis, os rituais e as tradições do Rito, as Constituições de Anderson e demais características da Maçonaria Universal.
Após a separação foi realizada em Paris, em 1929, a Quarta Conferência Internacional dos Supremos Conselhos do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito (Quatrième Conferénce Internationale des Suprêmes Conseils du 33 Degré du Rite Écossais Ancien Accepté, 1929.), onde compareceu o Supremo Conselho fundado por Francisco Gomes Brandão, representado por Mário Behring. A informação circulava com lentidão naqueles tempos: telegramas, cartas que às vezes se extraviavam e mensageiros que colocavam as Américas em contato com a Europa por prolongadas viagens de navio. Mesmo assim, três maçons do Grau 33, José Maria Moreira Guimarães, Lourival Jorge Masaredo Souto e Hyppolito Hermes de Vasconcelos foram nomeados por Octávio Kelly para representar o Supremo Conselho Reconstituído do Grande Oriente do Brasil. Mais uma vez a evidente interferência da administração dos Graus Simbólicos nos Altos Graus e vice-versa, pois já ficara estabelecida a soberania de cada Supremo Conselho, apenas um em cada país e livre de quaisquer inferências por parte de Grandes Lojas, Grandes Orientes ou quaisquer corporações maçônicas.
No dia 30 de abril, a comissão assim nomeada por Octávio Kelly não logrou ser recebida pelo encarregado da Assembleia dos Supremos Conselhos, René Raymond, que alegou já estar presente na Conferénce o Supremo Conselho do Brasil representado por Mário Behring. Os três representantes rejeitados enviaram um protesto à Conferénce no dia seguinte. Não obtiveram sucesso, pois pesou contra o Supremo Conselho do Grande Oriente do Brasil o fato de ele não ser soberano – isto é, estava adstrito a uma Potência Simbólica.
Durante a Conferénce ficou decidido que o único Supremo Conselho regular, reconhecido e única autoridade legal e legítima para o Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil era aquele fundado por Francisco Gomes Brandão e representado, na ocasião, por Mário Behring. (Hoje denominado "Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil" com sede em Jacarepaguá, Rio de Janeiro.)
No mesmo ano, em 4 de setembro, a Grande Loja Unida da Inglaterra estabeleceu os Basic Principles for Grande Lodge Recognition (Princípios Básicos para o Reconhecimento de Grandes Lojas) que proclamam, em seu parágrafo 5º:
Que a Grande Loja tenha jurisdição sobre as Lojas sob seu controle; isto é, que seja uma organização responsável, independente e autogovernada, com autoridade única sobre os Graus Simbólicos em sua jurisdição e que não esteja sujeita ou dividida em sua autoridade com um Supremo Conselho ou qualquer outra Potência que declare controle ou supervisão sobre esses Graus. (Além disso, a regularidade implica em: 1. Que cada Grande Loja deve ter sido estabelecida legalmente por uma Grande Loja devidamente reconhecida ou por três ou mais Lojas regularmente constituídas e ocupar território maçônico geograficamente definido; 2. Ter Carta Constitutiva concedida por uma Potência regular; 3. Que a crença no Grande Arquiteto do Universo e Sua vontade revelada sejam qualificações essenciais para a adesão de maçons em suas fileiras; 4. Que todos os iniciados tomem sua obrigação diante do volume aberto da Lei Sagrada que se vincule à consciência do indivíduo que está sendo iniciado; 5. Que os membros da Grande Loja e das Lojas a ela jurisdicionadas sejam exclusivamente homens, e que cada Grande Loja não terá relações com quaisquer tipos de Lojas mistas ou organismos que admitam mulheres à adesão; 6. Que as três Grandes Luzes da Maçonaria – o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso – sejam sempre exibidos quando a Grande Loja ou suas Lojas estiverem no trabalho maçônico, sendo a principal delas o Volume da Lei Sagrada; 7. Que a discussão de religião e política dentro da Loja seja estritamente proibida; 8. Que os princípios dos antigos landmarks, costumes e usos do ofício sejam estritamente observados.)
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Fonte: “GRANDE LOJ?A MAÇÔNICA DE MINAS GERAIS - HISTÓRIA, FUNDAMENTOS E FORMAÇÃO”
Autor: José Maurício Guimarães - Editado pela GLMMG em 2014.